Neste sábado, dia 25 de agosto, o Cineclube Dissenso exibe
dois médias e um curta-metragem da diretora americana Su Friedrich, numa
parceria com o Fórum LGBT de Pernambuco, em ocasião do Dia da Visibilidade
Lésbica.
Localizada dentro do que se convencionou chamar Cinema
Lésbico Independente Americano, Friedrich, junto com nomes como Barbara Hammer,
Jan Oxenberg e Sadie Benning, investigou, ao longo dos anos 70, 80 e 90, novas
formas de representação, em busca de uma alternativa aos modelos patriarcais
que interditavam a possibilidade de identificação e agência aos personagens
femininos, tornando-os meramente objetos do desejo voyeurístico para o olhar
dos personagens/espectadores masculinos, conforme descrito por Laura Mulvey.
Os três filmes de Friedrich que exibimos filiam-se à
corrente de documentários de auto-ficção. São relatos memorialistas, pessoais,
onde a narração confessional é o fio condutor das tramas. O primeiro, “Os Laços
que Unem”, dá voz às memórias da mãe da diretora, alemã que viveu toda a
ascensão nazista que culminou na Segunda Guerra Mundial, antes de fugir para os
EUA. É na tensão entre a consciência da luta que, de alguma forma, empreendeu
contra o regime e a culpa por fazer parte da nação que gerou-o que o filme
equilibra-se.
O segundo, “Afunde ou Nade”, centra-se na relação
conflituosa entre a diretora e seu pai. Utiliza-se de um relato que mistura
lembranças, mitos e fantasias de sua infância e adolescência para dar corpo aos
sentimentos contraditórios e mapear as marcas e cicatrizes que o vínculo entre
eles foi deixando ao longo do tempo.
Por fim, “Regras da Estrada” foca seu relato no automóvel
que entra na vida da diretora e de sua parceira em determinado momento. Mudando
rotinas e propondo a revisão de conceitos e valores, o automóvel-narrador,
símbolo de um modo de vida burguês, irá catalisar e refletir as várias fases do
relacionamento delas, materializando as memórias e experiências “da mesma forma
que os assentos de tecido marrom impregnaram-se com o cheiro de fumaça de todos
os cigarros que fumamos.”
A atenção dada a narração em off, nos três filmes, parece
subordinar as imagens à voz, num descentramento da percepção primordial para a
lógica patriarcal – a visão – conforme defende Donna Haraway, em seus estudos
sobre o desenvolvimento das artes visuais e da geografia. Ainda assim, as
imagens dos filmes – uma mistura de home movies da família, imagens documentais
e referências à cultura visual ocidental - adquirem certa autonomia ao não
somente ilustrarem as palavra. Elas criam, na verdade, uma variedade de
relações: acentuando ou removendo o peso do que é dito, propondo novos
sentidos, denunciando as intenções ocultas ou inconscientes por trás da
narração e até entrando em confronto direto com ela, numa rica trama de imagens
e vozes.
O QUE: Cineclube
Dissenso: Su Friedrich
QUANDO:
25/08/2012
ONDE: Cinema da
Fundação Joaquim Nabuco – Rua Henrique Dias, nº 609 | Derby