Com a chegada de mais um mês de novembro retoma-se o debate
nacional do chamado novembro azul, conjunto de atividades e mobilizações em
torno da saúde do homem com foco no rastreamento do câncer de próstata. A Rede
de Homens pela Equidade de Gênero, coletivo composto por organizações da
sociedade civil e grupos de pesquisa em gênero e sexualidade do Brasil, vem por
meio desta carta se posicionar publicamente sobre o “novembro azul” e sobre a
conjuntura nacional de atenção a saúde dos homens.
Sobre o rastreamento do câncer de próstata, somos contrários
a realização de exame de rotina de contagem de PSA e exame de toque como
atitude “preventiva” para homens com idades superiores a 40 (ou 50 anos como
anunciado recentemente). Esse posicionamento se encontra em consonância com o
consenso firmado por especialistas brasileiros no ano de 2002, que classificou
o rastreamento como ineficaz e potencialmente danoso a população por causa de
falsos positivos, com repercussões físicas e emocionais desnecessárias para a
vida desses homens. Essas recomendações estão embasadas em evidências
científicas confiáveis e são endossadas pelo próprio Ministério da Saúde
através de posicionamentos da Área Temática de Saúde do Homem.
Reconhecemos os órgãos e associações de profissionais de
saúde como parceiros na construção do SUS e na incorporação de vários
brasileiros que se encontram até hoje a margem de serviços de saúde.
Reconhecemos o sofrimento decorrente do câncer e seus impactos na vida de
vários brasileiros, mas não aceitaremos que políticas e programas de saúde
sejam orientados por lógicas diferentes das reais necessidades de saúde da
população e das possibilidades reais de intervenção frente a esses problemas.
Não aceitamos que o SUS seja pautado por lógicas
corporativistas e/ou de mercado impulsionados pelos desejos econômicos e
políticos das industrias de equipamentos de saúde ou farmacêuticos que enxergam
na chamada “saúde dos homens” um novo filão de mercado. Não consideramos,
assim, ética a postura de submeter a população a procedimentos diagnósticos
dispendiosos e reconhecidamente ineficazes.
O principal problema de saúde para os homens é o machismo.
Estudos em Saúde Pública e Ciências Humanas e Sociais vêm enfatizando, desde a
década de 1990, o baixo acesso dos homens aos serviços e ações de atenção básica
à saúde. De outra parte, vem indicando que as principais causas de adoecimento
e morte da população masculina são as causas externas (acidentes de trânsito e
violência). Em outras palavras, são resultantes do modo como os homens atuam em
sociedade, caracterizado por práticas de risco, não-cuidado e exercício da
violência. O machismo, que historicamente rendeu vantagens aos homens, na mesma
medida, determinou as principais causas de seu adoecimento e morte... Não apenas
o adoecimento e morte que vitimiza os homens, mas também aquelas provocadas por
eles, contra outros homens e mulheres.
Assumimos assim, o desafio de incluir a população masculina
nas ações de prevenção e promoção a saúde, mas de uma forma coerente com os
desafios sociais e epidemiológicos que essa medida requer. Assumimos o desafio constante
de construção do SUS e resistiremos sempre as medidas e posturas que se afastem
dessa importante conquista do povo brasileiro.
Integram a Rede de Homens Pela Equidade de Gênero (RHEG):
Instituto Papai – PE/BR
Grupo de Estudos em Gênero e Masculinidades (GEMA/UFPE) –
PE/BR
Instituto Promundo – RJ/BR
Instituto NOOS – RJ/BR
ECOS – Educação e Comunicação em Sexualidade – SP/BR
Grupo Margens (MARGENS/UFSC) – SC/BR