Texto publicado por Ramiro Simch no blog
“corporalidades.wordpress.com”
Cada vez mais vêm ganhando força, em diversos países, as
bandeiras levantadas pelo movimento feminista. A estrutura patriarcal, os
papeis predefinidos de gênero e o sexismo são algumas das questões que pautam a
atividade destes grupos de mulheres no século XXI. Entretanto, questionamentos
dessa ordem já não são exclusividade delas. Pouco a pouco, os homens
heterossexuais e cisgêneros incluídos também começam a trazer para seus
ambientes o debate e a problematização de sua posição na sociedade. Um bom exemplo
deste processo é o Coletivo de Homens Antipatriarcais, da Argentina.
Sob o lema “Nem machistas, nem fascistas”, o grupo surgiu há
cinco anos na cidade de La Plata. Hoje, eles se agrupam sob os mesmos
princípios em diversas localidades portenhas, inclusive na capital Buenos
Aires. O objetivo principal é desconstruir os parâmetros culturais que
determinam o que é ser homem e como este deve se vincular a outros homens, a
mulheres, a transgêneros, etc. Segundo Márcia Veiga (2010, p. 50), “distinções
de gênero não raro se transformam em relações desiguais entre o masculino e o
feminino em todos os campos da vida social: nos corpos, nos discursos, nos
conhecimentos, nas leis”. A discussão é contínua e infinita, como declaram os
integrantes em entrevista à revista virtual Geni: “O patriarcado e o machismo
estão em práticas cotidianas invisíveis, por isso estamos neste espaço, para
trazê-las à tona. O tema de outras corporalidades, de outras identidades, ainda
é difícil de abordar.”
Sob o ângulo da semiótica da cultura, podemos então afirmar
que o Coletivo de Homens Antipatriarcais agencia processos de reconfiguração de
sentidos em no mínimo dois âmbitos distintos: primeiramente, no espaço do
sistema cultural hegemônico na sociedade, por serem homens que tensionam e
desconstroem o seu papel social privilegiado; em segundo lugar, dentro do
contexto específico das militâncias de gênero, por ser um grupo totalmente
masculino realizando um conjunto de questionamentos que são majoritariamente
desempenhados por mulheres.
REFERÊNCIAS
- Colectivo de Varones Antipatriarcales. http://colectivovaronesantipatriarcales.blogspot.com.br
- Nem machistas, nem fascistas - http://revistageni.org/07/nemmachistasnemfascistashomensantipatriarcaisdaargentina
- MACHADO, Irene. Escola de semiótica – A experiência de Tártu Moscou para o estudo da cultura. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
- VEIGA, Márcia. Masculino, o gênero do jornalismo: Um estudo sobre os modos de produção das notícias. Dissertação de mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2010.